Esquerda e direita não discutem se o ex-ministro Ciro Gomes, atualmente no PDT, é ou não preparado para assumir cargo público, qualquer que seja ele. A grande dúvida se resume a seu comportamento no caso de enfrentar a mais comezinha das discussões. Seu grande defeito, para um grupo, e a maior virtude, para o outro, é que o ex-governador do Ceará se tornou um crítico de qualidade do governo de Lula da Silva (PT).
O PT e partidos aliados não toleram Ciro Gomes, a ponto de seu irmão Cid Gomes romper com ele e trocar o PDT pelo PSB. A impopularidade de Lula da Silva está ressuscitando o crítico, a ponto de o próprio Cid voltar a paparicar o primogênito da família. Atraiu também a direita, cujo maior partido não federado, o PL, está sem nome que não tenha o sobrenome Bolsonaro.
Se Jair Bolsonaro decidir que é confiável, Ciro Gomes pode ter chance de ser o candidato de seu grupo e tentar pela quarta vez a Presidência da República. Primeiro teria de se filiar ao PL, depois combinar com os russos sem desagradar aos ucranianos.
Pode ser sua última oportunidade, pois seus índices nas urnas despencaram nas últimas eleições, após crescer pouco, mas crescer, em três disputas seguidas: teve 10,97% em 1998, 11,97% em 2002, 12,47% em 2018 e quase sumiu em 2022 com 3,04%.
A paulada foi tão forte que anunciou o fim do desejo de ocupar o Executivo nacional, no qual exerceu o importantíssimo papel de ministro da Fazenda na implantação do Plano Real, em substituição a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que saíra para ser candidato à sucessão de Itamar Franco e seria eleito e reeleito.
No bolsonarismo, Ciro teria o cenário inédito de praças cheias do Rio Grande do Sul ao Amazonas, do Acre a São Paulo. Até agora, tem contado com o chamado voto de opinião, de quem exige do candidato um pouco mais que slogans elaborados por marqueteiros ou rezas de pastores fanáticos em busca de fiéis. Demonstra conhecimento de gestão pública, notadamente na área de economia.
Teria barreiras gigantescas, mas não intransponíveis. Jair Bolsonaro entubaria o PL com o Ecmo Gomes, sem importar a largura da garganta dos liberais. A missão quase impossível para Ciro é convencer governadores, parlamentares, prefeitos e a militâncias.
Nascido no interior de São Paulo, surgiu para a política na região de Sobral, no Ceará, e mora no Rio de Janeiro. Já foi casado com mulheres famosas, duas delas Patrícia, a atriz Patrícia Pillar e a senadora Patrícia Saboya.
É criativo, tem boa verve e ótima oratória, apesar de a qualquer minuto poder escapar uma gafe. Foi elogiado quando esteve gestor, como prefeito de Fortaleza e governador do Ceará e ministro também da Integração Nacional no primeiro mandato de Lula.
Essa digressão só teria sentido se Ciro Gomes fosse confiável aos olhos de Jair Bolsonaro, que desconfia até da sombra de gilete.
A análise de conjuntura menos especulativa é deixar Ciro Gomes em sua aposentadoria carioca, a família Bolsonaro com seus tormentos reciclados a cada semana, Tarcísio de Freitas com fácil reeleição em São Paulo, Romeu Zema e Ratinho Jr. com votações recordes para o Senado por Minas Gerais e Paraná.
Enquanto isso, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, entrou de vez na disputa após o lançamento em Salvador (BA) no início do mês e não saiu mais das manchetes.
Na semana passada, por exemplo, a revista de notícias que sobrou no Brasil, a “Veja”, tem na capa o tema da pré-campanha de Caiado e na entrevista das “Páginas Amarelas” o presidente de seu partido, Antônio Rueda, mais liso que bagre ensaboado para confirmar que o dirigente goiano será mesmo o candidato do partido a enfrentar Lula e ao mesmo tempo não perder os ministérios.
Ah, Ciro Gomes já disse que Ronaldo Caiado é “bom administrador” e “tem espírito público”.