Dados do Censo 2022 mostram que o pontificado do Papa Francisco foi importantíssimo para reverter a perda de fieis da Igreja Católica, para as denominações evangélicas.
Marcus Vinícius de Faria Felipe
Pelo Censo 2022, o número de brasileiros que se declararam católico-romanos é de 60%, enquanto os que se denominam evangélicos ficou em 23%
Pela perspectiva da estatística, olhando para o salto dado no número de evangélicos de 1980 até 2010, o esperado era que os fieis das igrejas neopentecostais chegariam a 39,8% em 2030, contra 38,6% de católicos, mas isto, claramente parece que não vai mais se concretizar. O fato novo no Censo 2002, é que de 2010 para 2022, houve estagnação no percentual de crescimento de fiéis evangélicos e estabilização no número de católicos.

Queda evangélica
Para se ter uma ideia mais clara deste movimento de estabilização das principais religiões do país, é preciso analisar os dados dos censos de 1989 até o atual, de 2022.
Em 1980 o número de católicos era de 89%, caiu para 84% em 1991, desceu a 74% no ano 2000 e despencou a 64% em 2010, entretanto, em 2022, estabilizou-se em 64%, quando a projeção anterior, do Censo de2010, era de que em 2020 os católicos seriam 49,9% , contra 31,8% evangélicos e em 2030, 38,8%, contra 39,8% evangélicos.
Progressismo de Francisco reverteu queda
Neste mesmo período, os evangélicos saíram de 5% em 1980 para 9% em 1991, saltando a 15% no ano 2000, pulando para 22% em 2010 e em 2022, chegou a 23% da população. Ou seja, os católicos deixaram de decrescer à taxa de 10 pontos percentuais a cada década, e os evangélicos pararam de subir ao ritmo de 7 pontos percentuais entre um censo e outro.
E é exatamente neste período, de 2010 a 2022, que acontece a transição do papado ultraconservador de Bento XVI para o pontificado progressista do Papa Francisco, que assumiu os destinos da igreja em 2013, até sua morte em 21 de abril deste ano de 2025.
Francisco retomou fieis à igreja
Durante o papado de Francisco, a igreja voltou-se aos mais pobres, retomou o diálogo com as comunidades, combateu a pedofilia, ampliou espaço das mulheres, abriu as portas da igreja aos casais divorciados, às pessoas LGBTQI+, promoveu o debate sobre direitos humanos, diretos trabalhistas, reforma agrária e ecologia. Ou seja, a pauta progressista reverteu a sangria de fieis e posicionou a Igreja Católica no Brasil para retomar aqueles perdidos para outras denominações religiosas.
Se o conclave em Roma, que se prepara para definir o novo papa, olhar para os números do censo brasileiro, provavelmente o sucessor de Francisco vai adotar a mesma linha de moderação e abertura da Igreja Católica aos novos tempos.
Crescimento dos desigrejados
Outro dado interessante do Censo 2022 do IBGE é que tem crescido o número de pessoas consideradas sem religião no Brasil. No Censo de 2010, o grupo correspondia a 8% da população, já em 2022, esse quantitativo subiu para 14%. Entre os jovens de 16 a 24 anos, o número dos sem religião chega a 25% em âmbito nacional.
O último Censo 2002 também revelou que, dos 15,3 milhões de brasileiros que se diziam sem religião, em 2010, apenas 4% (615 mil) se consideravam ateus, ou seja, não acreditavam na existência de Deus; e somente 0,8% se afirmavam agnósticos (124 mil), dizendo não ser possível afirmar com certeza se Deus existe ou não.
Entrevistado pelo jornal O Liberal, do Pará, o bacharel e mestre em Teologia, Ulicélio Valente de Oliveira salieta que “os desigrejados são pessoas que cresceram dentro da igreja, mas, ao longo do tempo, por uma série de razões relacionadas a experiências negativas com a igreja, acabaram se afastando da institucionalização”.
Outro fator para perda de fieis pelas igreja evangélicas tem sido a decepção com promessas feitas em nome de Deus e que nunca se cumpriram, desapontamentos relacionais, além das práticas e ensinos questionáveis ministrados em ambientes eclesiásticos e a repulsa com os maus exemplos e casos de corrupções envolvendo lideranças (pastores, bispos e apóstolos).
O último exemplo desta perda de confiança de fieis é o “Pastor Mirim”, Miguel Oliveira, de 15 anos, que ficou conhecido nas redes por suas pregações polêmicas.
Em um vídeo que circula nas plataformas digitais, Miguel aparece em uma pregação declarando: “Eu rasgo o câncer, eu filtro o seu sangue e eu curo a leucemia”, enquanto rasga folhas de papel diante de uma fiel. Um usuário criticou a atitude:
“Pede exame de leucemia e rasga. Diz que está curando. Isso é crime. Isso é brabo demais. E tem gente que acredita nisso, larga o tratamento e morre”.
O caso chamou atenção do Conselho Tutelar de Carapicuíba (SP), que proibiu Miguel de pregar em igrejas e publicar nas redes sociais por tempo indeterminado. O Ministério Público de São Paulo investiga ameaças recebidas pelo jovem, que se autodenomina “profeta”.
Com IBGE, jornal O Liberal e O Tempo